As fotos todas são do meu banco pessoal, fotos da militância, das ruas, da vida...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nota Pública da Associação Londrinense de Saúde Mental sobre atendimento de urgência em saúde mental na UPA de Londrina



Motivos pelos quais somos a favor da retirada do pronto atendimento de saúde mental do CAPS III

1- O paciente é visto apenas nos aspectos da doença mental e perde-se a dimensão da integralidade;
2- A lógica da exclusão se mantém, pois a visão tradicional, a qual o movimento da reforma psiquiátrica procura desmistificar se fortalece;
3- Os pacientes que necessitam de cuidados durante a crise muitas vezes precisam de intervenções pontuais e devem ter seus direitos garantidos;
4- Por questão de economia de recursos do sus. Não tem lógica o funcionamento de um serviço 24 que atenda apenas a demanda da saúde mental, já que existem outros locais que deveriam estar preparados para absorver também essa demanda;
5- Por existir uma central de regulação seria o esperado que os pacientes fossem regulados para toda a rede;
6- Combate ao preconceito. Os pacientes com transtorno mental não são todos agressivos e muitos que chegam nos pronto atendimentos não são pacientes com transtorno mental, é muito comum pessoas fazerem uso esporádicos de substâncias e terem reações agressivas, a lógica do senso comum tem sido diagnosticar como pacientes com transtorno por uso de substância psicoativas e até com surtos. Existe sim a necessidade de tratamento, mas seria em outros momentos e após o atendimento na rede de urgência/emergência devem ser encaminhado para a rede psicossocial. Pois essa é a lógica que preconiza o ministério da saúde;
7- Temos que fazer valer a lei 10.216;
8- Também concordamos que os profissionais da UPA também precisam de capacitação adequada para melhor atender o público em sofrimento mental, se não o tiverem estão sujeitos a um mal acolhimento;
9- Também reiteramos que a capacitação dos profissionais da UPA deverá ser realizada por equipe multiprofissional baseada nos preceitos da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial;

Atenciosamente,

Diretoria da Associação Londrinense de Saúde Mental

CARTA DO I ENCONTRO NACIONAL DA RAPS- Rede de Atenção Psicossocial

Nós, trabalhadores, usuários e familiares, participantes do Encontro Nacional das Redes de Atenção Psicossocial, exercendo o protagonismo politico que nos cumpre, vimos manifestar nossa preocupação face ao atual momento da Reforma Psiquiátrica, trazendo algumas reflexões necessárias ao seu enfrentamento.
 
Na presente conjuntura, constatamos a grave ameaça de retrocesso representada pela politica governamental para a atenção às pessoas em uso prejudicial de álcool e outras drogas. O financiamento das comunidades terapêuticas por verbas públicas, o número sempre crescente de internações compulsórias, as medidas higienistas em geral, revelam a admissão implícita, por parte do poder público, do discurso moralizante da famigerada guerra às drogas, reeditando, perigosamente, a estrutura e as concepções do manicômio. Tal politica se coloca em clara contradição com nossa valiosa pratica do cuidado em liberdade, ferindo, ademais, a garantia constitucional da saúde como direito e dever do Estado. 
 
Reivindicamos, pois, ao poder publico, e, muito especialmente, ao Ministério da Saúde, a adoção de uma política decidida e coerente no âmbito do uso prejudicial de álcool e outras drogas, segundo os princípios da Reforma Psiquiátrica e do SUS, que vimos tão arduamente sustentando no cotidiano das nossas redes.
 
Ademais, há vários outros pontos ainda frágeis na consolidação da Reforma Psiquiátrica brasileira. Dentre eles, aqui elencamos alguns. A precariedade da atenção à crise nas Redes de Atenção Psicossocial, impedindo o indispensável fechamento dos mais de 30 mil leitos em hospitais psiquiátricos ainda existentes no país torna inadiável o investimento nos CAPS IIII. As dificuldades na montagem de RAPS efetivamente territorializadas e descentralizadas requer o compromisso efetivo do Ministério da Saúde, assegurando, acompanhando e fiscalizando a sua implantação. O grande descompasso entre a formação oferecida pela universidade e aquela requerida para os trabalhadores das redes mostra a necessidade de radicalizar o ensino e a transmissão nas RAPS, fazendo florescer seu vigoroso potencial formador. É preciso valorizar e difundir equipamentos tipo Centros de Convivência, inventivos e inovadores, voltados para a produção de arte, cultura e lazer, com a garantia de seu financiamento pelo Ministério da Saúde e Secretarias de estado. Urge, ainda, opormo-nos firmemente a todas as formas de privatização da Saúde e precarização dos vínculos de trabalho, tais como aquelas promovidas pelas OS e outras modalidades de terceirização do SUS.
 
Desejamos louvar o empenho e o zelo da equipe da Coordenação Nacional de Saúde Mental, ao realizar este primeiro Encontro Nacional das RAPS, cumprindo a importante função de acolher generosamente os 3.000 participantes, dispostos a lutar por seu trabalho e pelos princípios que o regem. Que venha logo o segundo encontro, construído de forma coletiva com os trabalhadores, usuários, familiares, movimentos sociais, ainda mais participativo, democrático e desinstitucionalizado, propiciando também, cada vez mais, a politização do debate, a formulação precisa das questões, a deliberação conjunta de estratégias para o seu enfrentamento.
 
Concluindo, enfim, ressaltamos o nosso desejo de atuar como parceiros e interlocutores desta Equipe, para modificar as complexas relações politicas em jogo na construção da Reforma, buscando torná-las favoráveis ao nosso belo e apaixonado projeto de uma sociedade sem manicômios.
 
Documento aprovado na plenária de encerramento do I ENCONTRO NACIONAL DA RAPS
 
Pinhais, 06 de dezembro de 2013