As fotos todas são do meu banco pessoal, fotos da militância, das ruas, da vida...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Reflexões de um ex usuário do CAPSi




O que posso fazer todos os dias para mudar esta situação
Compreender eu mesma.
Quando começarei a fazer este exercício de compreender eu mesmo
Não tenho previsão do dia para começar.
O que estou fazendo para melhorar e conviver com o meu distúrbio
Tomando remédios
Tomo na hora certa
Não
Então como quero ficar bom senão tomo o remédio na hora certa como o médico recomenda
Não Sei
Só o remédio é suficiente para me ajudar
Não!
Minhas qualidades ou capacidade de trabalhos que posso desenvolver: limpar a casa, lavar louça, lavar roupa, lavar calçada.
Qual outro trabalho que eu desejaria
Gostaria de ser um promotor
O quê devo fazer para ser um promotor
Estudar

Não à internação compulsória, não à higienização social!



POR TRÁS DOS BASTIDORES DA INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA


Não à internação compulsória, sim a políticas públicas de saúde.



Quem são os reais beneficiários da internação compulsória? A especulação imobiliária da região da Luz, a política higienista que visa limpar a cidade para os megaeventos e as comunidades terapêuticas religiosas que lucram às custas do sucateamento do sistema público de saúde.

Prevista em lei, a internação compulsória só deve ser colocada em prática em último caso, já que é indicada apenas quando o indivíduo pode causar riscos a terceiros ou a si mesmo. A aplicação da internação compulsória é uma generalização que ignora as particularidades dos indivíduos. Assim, a política de massa desta forma de internação não só é ilógica, como inconstitucional.

A medida colocada pelo governo como forma emergencial de tratamento para garantir a saúde dos usuários de droga não passa de uma enganação, uma vez que o problema de drogas não se resolve com medidas imediatas e repressivas.

O paradigma da abstinência insiste na idéia de ausência de drogas como sinônimo de saúde. Saúde não é somente ausência de doença ou ver-se livre das drogas, mas ter os direitos básicos como moradia, trabalho, cultura e lazer garantidos pelo Estado.

Para onde serão levados os indivíduos sequestrados nas ruas se não há investimento em políticas públicas de saúde de qualidade? Para livrar-se do necessário investimento no sistema público de saúde, o governo tem feito privatizações e oficializado parcerias com comunidades terapêuticas majoritariamente religiosas que, em muitos casos, tem sido alvo de denúncias por uma série de irregularidades como trabalho escravo e péssimas condições – verdadeiras casas de confinamento.

Além disso, há outras formas de tratamento alternativas à internação compulsória em que o governo poderia investir. Uma delas são os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Outra alternativa seria a implementação de políticas de redução de danos que prezam a autonomia dos usuários. A solução está no planejamento de políticas públicas de saúde que prezem o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários, além do fortalecimento dos laços comunitários e tratamento ambulatorial.

Nem caso de polícia, nem de justiça. O problema das drogas diz respeito a toda sociedade, já que o crack não inventou a miséria, apenas agravou a situação.

A “guerra ao crack” é, na verdade, uma guerra à população pobre e vulnerável, já que a substância passa longe, bem sabemos, de ser o real inimigo do poder público.

domingo, 13 de janeiro de 2013

A Experiência com usuários de álcool e drogas entre crianças e adolescentes de um CAPS infantil


* Por Jackeline Lourenço Aristides e Marina Maria Beltrame

 O Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Caps i) é um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). É um lugar de referência e tratamento para crianças e adolescentes (até 18 anos) que apresentam sofrimento psicossocial, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência através de cuidados intensivos, porém comunitários. Estão incluídos nessa categoria as crianças com autismo, psicoses, neuroses graves e em dependência de crack, álcool e outras drogas. 
 Para ser modelo substitutivo ao hospital psiquiátrico, a assistência deve ser integral e em equipe multiprofissional, contemplando o processo saúde doença permeado pelos determinantes sociais. Ao buscar atendimento no Caps Infantil, é agendada uma triagem para a criança/adolescente na qual os pais ou responsáveis também participam. A triagem aos transtornos mentais ocorre às sextas-feiras em grupos divididos por faixa etária e a triagem relacionada à dependência de álcool e ou drogas nas quintas. A escuta é feita pela equipe multiprofissional que se divide em dois grupos: uma parte escuta os pais e a outra parte observa e escuta as crianças e ou adolescentes. Terminada a triagem, a equipe se reúne para discussão dos casos e avaliar se a criança/adolescente apresenta condição psicossocial que justifique atendimento nesta instituição, o que pode implicar em atendimentos em psicologia, psiquiatria, assistência social, procedimentos e consultas de enfermagem, visitas domiciliares, oficinas e grupos terapêuticos. Em caso negativo, a devolutiva é realizada para os pais-responsáveis, ou órgão encaminhador, que pode contemplar esclarecimento de dúvidas ou encaminhamento para outros serviços da rede. Para alcançar a integralidade na assistência e o acolhimento na comunidade desencadeamos reuniões em rede (CRAS, UBS, CREAS, conselho tutelar e outros) e visitas periódicas em escolas. Os preceitos da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial também foram utilizados como argumentos para o desenvolvimento de grupos terapêuticos com crianças e adolescentes em dependência química, reconhecendo a redução de danos como pressuposto da adesão ao tratamento.  Avançamos na integralidade da assistência, na discussão de casos em rede e em equipe multiprofissional, no cuidado dos usuários com dependência química em regime ambulatorial, porém ainda nos deparamos com obstáculos reducionistas quando almejamos os preceitos da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial. Encontramos resistência na desinstitucionalização e na desospitalização entre profissionais da saúde mental, assistência social e educação, e forte apelo à medicalização e internação psiquiátrica. 

Crianças e Adolescente na mira das mazelas do capitalismo

* Por Jackeline Lourenço Aristides

Trabalho como enfermeira em um CAPS Infanti , e descreverei algumas atribuições de um Centro de Atenção Psicossocial, bem como potencialidades do trabalho em equipe e na comunidade, dificuldades enfrentadas na sociedade e no trabalho em rede e o processo de trabalho do enfermeiro. Quero ajudar na construção de eixos norteadores para nós trabalhadores de saúde, trabalhadores cada vez mais precarizados, fragmentados, pouco escutados, mas que ainda acreditamos numa sociedade mais justa e libertária.
O público alvo do CAPS é de crianças e adolescentes com transtorno mental moderado a grave como psicoses, autismo e neuroses graves. Além do suporte biopsicossocial (atendimento psicológico, consultas de enfermagem, visitas domiciliares, reuniões em rede, aconselhamento, reabilitação psicossocial, reuniões de família, grupos terapêuticos, encaminhamento para serviços comunitários de lazer, trabalho e educação) também deve ser oferecido o atendimento psiquiátrico.
Sabemos que quando a criança adoece, adoece também a família, ou mesmo não sabemos delimitar quando começa ou termina o adoecimento, sendo assim o trabalho da equipe de saúde mental não se restringe somente ao usuário, mas também à família. E, o que percebemos também é a responsabilização da família como culpada dos agravos ou da situação das crianças e adolescentes, quero implicar aqui o termo da corresponsabilização, já que os profissionais de saúde não devem ser omissos e culpabilizar sempre a família, e sim instrumentalizá-la para fortalecer laços saudáveis.
 Parece que a família dá conta de tudo, dos problemas da sociedade capitalista, da falta de emprego, de perspectivas, que certamente se refletem na família, núcleo duro das práticas machistas, homofóbicas, de violência interparental aprendidas durante a vida dos indivíduos. A família burguesa é aquela em que temos pai, mãe, filhinhos lindos em uma mesa repleta durante a manhã, protegida dentro de suas casas enclausuradas por muros e cercas, família também adoecida, já que lá no fundo sabemos que ainda existem relações patriarcais, a mulher submissa ao marido, os filhos respeitando os pais por medo apenas. Contesto “o limite” imposto aos filhos por meio do medo. Acho muito mais saudável famílias que discutem suas diferenças, em que o pai admite que a filha é homossexual, ou um casal de homossexuais que respeitam-se. Esse é outro debate, mudou-se o perfil das famílias, e os trabalhadores da saúde não acompanharam este movimento.
O debate com a centralidade na família esconde a omissão do ESTADO CAPITALISTA em fortalecer os serviços, de acolher as pessoas, de investir pouco em áreas estratégicas como a saúde, trabalho e educação.
Para trabalhar com a família, toda a rede de serviços deve estar implicada, não como serviços punitivos, cerceadores de direitos, mas como parceiros de políticas públicas que dão certo pelo país afora, que promovam trocas de saberes, construam protocolos, norteiem o setor da saúde, assistência social, justiça, educação, lazer e educação. Trabalhamos em sentidos opostos, ora vemos as crianças e adolescentes como seres sem autonomia, ora como infratores, perigosos, insensíveis, ora como anjos, “sem pecado”.
Hoje, o que temos visto é a insensibilidade dos serviços, a falta de profissionais capacitados em todas as áreas, uma moral mutiladora da sociedade. Há um consenso “que antigamente” as crianças “eram mais educadas, mais moralizadas”, parece que quando crianças não brincávamos, não subíamos em árvores, não pulávamos árvores, não cabulávamos aulas, não fazíamos sexo sem amor, não namorávamos, não tínhamos tesão! Já vi professores chamando a patrulha escolar porque um menino subiu em uma árvore! As crianças estão expressamente proibidas de brincar, sonhar, falar não! A rebeldia está prestes a virar diagnóstico médico segundo o CID- Código Internacional de Doenças. Não pode dizer não, interrogar o professores, que tem transtorno de conduta!
Todos somos hiperativos, ou temos déficits de atenção, quando a aula é chata, ou quando o assunto debatido não faz parte do nosso cotidiano, ou mesmo quando os professores nos tratam mal, nos tratam como homogêneos, não respeitam nossas diferenças. Faço um parêntese, não quero culpabilizar o professor, este está abandonado pelos gestores, em salas com 40 alunos, sem o respeito do piso salarial, sem tempo para educação permanente...
Se não for medicado, se não for contido, não pode frequentar a sala de aula, já vi diretores e pedagogos impedirem os alunos que não têm receitas de ritalina, ou “calmantes” prescritos pelos médicos. Já vi mães relatando que professores davam por conta ritalina sem prescrição médica aos seus filhos. Estudos apontam que cerca de 10% das crianças em idade escolar tomam ritalina no Brasil, nos EUA, país campeão em uso de psicotrópicos, isso chega a 30%! Será que seguiremos o mesmo caminho, muitos destas crianças serão fortes candidatas a fazer uso de anfetaminas e ou ansiolíticos quando crescererem, alimentando a indústria farmacêutica.
Falando em droga, outro grupo que estamos absorvendo são os dos usuários em álcool e drogas, propondo outra abordagem utilizando a redução de danos e fazendo enfrentamento aos biologicismos e ao tratamento centrado no médico.
 Este público passou a frequentar as páginas policiais de uns anos para cá, os manicômios, os complexos penais médicos “antigo manicômio judiciário” e as prisões comuns. Hoje, um adolescente que é apanhado por porte de maconha paga medida socioeducativa por anos, já vi vários casos assim, ou são obrigados a fazer tratamento forçado em hospitais psiquiátricos por uso desta substância. Estranho que os verdadeiros traficantes, aqueles ligados à banqueiros, bicheiros e deputados passam ilesos.
Já recebi ligações de conselheiros tutelares querendo a internação compulsória de adolescentes que só utilizavam o tabaco, haja leitos para tantos fumantes! Já vi também tentativas desse gênero para adolescentes em idade produtiva, que estão finalizando o segundo grau, pensando em faculdade, internação psiquiátrica pelo uso de maconha uma vez ao dia! Esquecem que 70% da população faz uso de álcool, seja de forma esporádica ou contínua, ou mesmo que vão ao happy hour nos fins de tarde, é muita hipocrisia...
Há várias distorções nessa abordagem, o que vemos de falta é a falta de opção terapêutica para quem de fato precisa e que querem cessar o uso, como dependentes químicos de crack e álcool e que perderam os vínculos sociais, e excesso de vigilância para aqueles que fazem o uso, e que precisariam apenas de apoio dos serviços. É proibido falar em redução de danos! Parece que estamos fazendo apologia! É óbvio que devemos cuidar daqueles que já possuem histórico de transtorno mental prévio e que passam a fazer uso abusivo de drogas ou mesmo se tornam dependentes, e daqueles que querem de fato parar o uso. Ficaríamos aqui várias horas falando das distorções que a redução de danos pode construir no imaginário das pessoas por simples falta de conhecimento.
Ao falarmos em convivência familiar e comunitária, bem como da luta antimanicomial há uma denotação de esquerdismo, ou seja, parecemos utópicas, o hospital psiquiátrico protege dos maus tratos e da violência das ruas e por isso vamos internar! Só esquecem de enfrentar o cerne da discussão, que são dos determinantes do uso de drogas, segregar nunca foi tratamento ou tampouco terapêutico. Quando um insulinodependente não adere à insulina nunca propomos uma internação compulsória, a não ser que ele esteja hipoglicêmico ou comatoso, o mesmo pensamento deveria ser para usuários de drogas, por exemplo, mas porque é diferente, eu fico pensando.
Esquecemos de falar também que os manicômios possuem inúmeras denúncias de mortes, violência sexual, moral e física, impondo às pessoas em sofrimento mental o  isolamento social e higienista de uma sociedade que é indiferente aos seus pares.

Saudações Antimanicomiais!

Poesia de Saúde Mental


POESIA SAÚDE MENTAL
Querer é poder?
Não quero ouvir vozes
Quero ser ouvido.
Não quero ver o irreal
Mas que enxerguem o meu Eu real.
Não quero ordem. Que me disciplinem corpo e mente
Não quero que façam ou falem por mim,
Quero ser, somente!
                                (Autoria anônima)

sábado, 12 de janeiro de 2013

Dissertação de Mestrado: ACOLHIMENTO DA POPULAÇÃO NEGRA EM SOFRIMENTO PSICOSSOCIAL PELO CANDOMBLÉ DE LONDRINA-PR


RESUMO

Os negros vivem uma relação de desigualdade socioeconômica em comparação aos
brancos, e isto está diretamente relacionado ao processo saúde doença também
desigual para aquelas pessoas. Como forma de enfrentamento à às mazelas da
escravidão  as  comunidades  de  terreiro  ficaram  conhecidos  lócus  de  produção
cultural e política, bem como espaço de produção de saúde. O candomblé, assim
como outras religiões de matriz africana utilizam o acolhimento em seu cotidiano, e
esse termo é utilizado na atenção e escuta aos sujeitos em sofrimento psicossocial
nesses  espaços.  Para  compreender  esse  acolhimento  foram  entrevistadas  seis
líderes do candomblé do município de Londrina- PR. Para a interpretação das falas
foi  utilizada  a  análise  de  discurso  que  segundo  Pêcheux  (1998)  compreende
considerar a interdiscursividade, ou seja, uma fala individual é carregada de vários
sujeitos  e  de  um  contexto  histórico  e  ideológico.O  acolhimento  nos  remete  à
iniciação orixá, conforto espiritual, prática de banhos com ervas medicinais, cuidado
aos grupos sociais específicos, abordagem em doenças sexualmente transmissíveis,
encaminhamento aos serviços especializados. As formas de sofrimento psicossocial
mais referidas pelas pessoas acolhidas segundo o relato das líderes, ora possuíam
classificação médica como o etilismo e a depressão, ora eram subjetivações do
sofrimento como “perturbação” e estresse. O acolhimento do sofrimento psicossocial
traz  significados  como  a  dialética  do  material  e  do  espiritual,  visita  domiciliar,
fragilidade da continuidade na linha do cuidado e racismo e preconceito racial como
causadores  de  sofrimento. Este  trabalho  avança  na  perspectiva  de  apontar  a
necessidade de trabalho em rede, de desconstrução da hospitalização psiquiátrica e
da  medicalização,  e  do  enfrentamento  do  preconceito  frente  ao  candomblé.
Possibilita também compreender como a população negra busca apoio frente ao
sofrimento psicossocial. 
Palavras-chave: Acolhimento;  Grupo

Artigo na íntegra: http://www.uel.br/pos/saudecoletiva/Mestrado/diss/120.pdf

Cartas na mesa: patologização dos usuários ou criminalização contribuição para o debate de descriminalização e legalização das drogas


04/04/2011 2 COMENTÁRIOS
“Me contem, me contem aonde eles se escondem?
atrás de leis que não favorecem vocês
então por que não resolvem de uma vez:
ponham as cartas na mesa e discutam essas leis” Planet Hemp

A seção Cartas na mesa é composta por opiniões de leitores e membros do DAR acerca das drogas, de seus efeitos político-sociais e de sua proibição, e também de suas experiências pessoais e relatos sobre a forma com que se relacionam com elas. Vale tudo, em qualquer formato e tamanho, desde que você não esteja aqui para reforçar o proibicionismo! Caso queira ter seu desabafo desentorpecido publicado, envie seu texto para coletivodar@gmail.com e ponha as cartas na mesa para falar sobre drogas com o enfoque que quiser.
O texto de hoje é de Jackeline Lourenço Aristides, é enfermeira, especialista em Saúde da Família e Saúde Mental e mestre em Saúde Coletiva.


Patologização dos usuários ou criminalização: contribuição para o debate de
descriminalização e legalização das drogas
O debate do combate ao crack ganhou destaque nas pautas eleitorais do ano passado. Por um lado verificamos o setor liberal, expondo o debate da descriminalização da maconha, num sentido mais restrito aos consumidores da classe média, com uma clara conotação de apelo à juventude que utiliza em termos de votos. Sem qualquer debate aprofundado e sem ampliar a questão para a criminalização da juventude da periferia, logicamente que não era de se esperar tal nível de contextualização advindo do setor mais abastado. Neste mesmo caldo, houve aqueles que ainda consideram este projeto como ultrajante, ferindo os preceitos morais, éticos e religiosos.
Há ainda aqueles que falaram em enfrentamento acirrado à droga, no caso o crack, e consequentemente ao usuário por meio do incremento no aparato policial e repressor. A repressão do consumo de CRACK tem demonstrado um incremento no tráfico de outras drogas, quer dizer que o ciclo das drogas permanece, ou seja, é pouco eficaz o combate acirrado às drogas. Tanto no modelo atual que se segue como na tentativa de aumento das vagas em hospitais como alguns partidos propõem, nos remete ao controle estatal do “ser usuário”, todos dois se mostram como repressores., O aumento das vagas em hospitais trata o usuário de forma “patologica”, e é uma
forma de aumentar a participação dos hospitais privados que querem a todo custo reverter o processo da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, seja por meio de clínicas, seja por meio de hospitais, numa classe reversão ao modelo manicomial, médico-centrado, biologizante e excludente. Ferindo sobretudo os preceitos do Sistema Único de Saúde como saúde pública de qualidade. Neste bloco realçamos a defesa dos partidos da ordem: PTx PSDBx PV.

Um partido de esquerda tem que se diferenciar destas formas de “enfrentamento” do tema num viés socialista, de legalização de todas as drogas, com a disponibilidade de serviços públicos de redução de danos, na troca das drogas devastadoras como o crack e inalantes por drogas menos prejudiciais e acompanhamento irrestrito e público dos usuários que assim o desejarem. Não podemos nos contentar somente com o ideário burguês da necessidade de ir e vir, mas temos que ampliar o horizonte para as consequências do proibicionismo e a criminalização da juventude pobre e sobretudo negra da periferia com relação às drogas. Feito este debate, não podemos nos esquecer que o capitalismo se apropria do mercado de drogas tanto no marketing e na venda das drogas, velocidade de propagação só alcançada neste sistema. As propagandas de álcool são veiculadas quase todos os dias na TV, as de tabaco ganham espaço nos países pobres, principalmente entre as mulheres. Para estas há um apelo dos cigarros mais “afinalados”, possuindo forma da “silhueta” dos dedos das mesmas e com odor mais agradável, ou com “deusas” fortemente veneradas fumando nas embalagens.
Trazendo para o contexto ocupacional, veremos trabalhadores das zonas produtoras de tabaco, diga-se de passagem as mais pobres, morrendo precocemente pela liberação de “pós e resíduos” na produção e transporte das folhas de tabaco que ocasionam doenças pulmonares, entre eles o câncer de pulmão e laringe. Para piorar, a maioria deles são dependentes do tabaco pelo manuseio e pelo desgaste físico do trabalho, e gastam boa parte de seu salário com o consumo do tabaco.
As drogas sintéticas são apelativas, as balas de ecstasy e o adesivo de LSD são coloridos, tem formas agradáveis, com desenhos em formas de interrogação (?) estimulando a experimentação, sobretudo são de fácil consumo e passam despercebidas por um tempo entre os pais e amigos. Cresce o número de mulheres, sobretudo “donas de casa” dependentes de emagrecedores e de benzodiazepínicos nas unidades de saúde, num claro marcador de mercantilização do corpo e do enfrentamento da vida. Entre os homens cresce também o uso de hormônios de crescimento e anfetaminas, demonstrando mais uma vez a velocidade e a competitividade que somente o capitalismo produziu. O debate é amplo e não se reduz ao proibicionismo ou a criminalização dos usuários, este artigo apena trouxe alguns apontamos de uma profissional de saúde que não quer se omitir como muitos o fazem!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

PROCESSO SAÚDE-DOENÇA DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA DA CIDADE DE LONDRINA: ASPECTOS DO VIVER E DO ADOECER


Compartilho com vocês meu artigo baseado no meu TCC da graduação, foi uma experiência que compartilhei entrevistando pessoas em situação de rua da cidade de Londrina, nele demonstro alguns aspectos da saúde mental desta população. Confira na íntegra no site: http://www.ccs.uel.br/espacoparasaude/v10n2/Artigo7.pdf

RESUMO

Os moradores de rua vivem um processo saúde-doença  permeado pela hostilidade das pessoas, 
violência, estresse, más condições de alimentação e higiene, convivência com a aglomeração de 
pessoas e do acesso à saúde dificultado. Conhecer os motivos que levam a morar na rua, analisar o 
viver e o adoecer, com hábitos de vida e agravos, compreender o significado de saúde e doença para 
esses indivíduos e analisar o acesso à saúde dessa  população são os objetivos deste trabalho. Para 
isso, foram entrevistados indivíduos albergados em  instituição na cidade de Londrina-Pr. Concluiu-se 
que a maioria era composta por homens entre 40 e 50 anos e que o desentendimento e/ou perda da 
família, doença e desemprego foram os motivos de ida às ruas. Problemas psiquiátricos, tuberculose e 
HIV/aids apareceram nas falas com relação às doenças. O significado de saúde-doença para esse grupo 
quase sempre expressa a saúde com a ausência de doença, mas também perceberam-se falas que 
mostram a saúde com sentido de bem-estar e doença ligada à incapacitação. No acesso à saúde, 
apesar de um contexto nacional de descaso com a saúde do indivíduo em situação de rua, apareceram 
falas sobre o acesso mais facilitado graças ao programa municipal de assistência social ao morador de 
rua - SINAL VERDE. Contudo, quando há procura espontânea pelo serviço de saúde, existe a barreira 
do preconceito. Assim, se reconhece que essas informações denotam uma heterogeneidade de perfis e 
que a equidade deve ser considerada primordial na abordagem em saúde. 
Descritores: Processo Saúde-Doença; Sem-Teto; Pesquisa Qualitativa. 




quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Saudações Antimanicomiais!

Dando início às postagens do Blog, primeiramente gostaria de agradecer aos visitantes e esclarecer que este é um blog aberto à comunidade, onde a participação preferencial é dos usuários, familiares e profissionais de saúde. Como trabalhadora de CAPS infantil (CAPSi), notamos uma carência de troca de saberes nesta área especificamente, e como é difícil conciliar o trabalho, a vida prática com o academicismo. Nós trabalhador@s temos muito a aprender e muito a ensinar, porque vivemos no dia a dia as dificuldades de sermos antimanicomiais e nadarmos contra a hegemonia do hospital psiquiátrico presente no discurso coletivo. Também consumidos pelo dia a dia do trabalho nos sobram poucas horas para descansarmos e repormos a energia para o dia seguinte, faltando momentos em que possamos parar e (re)pensarmos nossa prática, e acumularmos teoricamente, escrevendo, debatendo! Infelizmente, temos tanto a contribuir, porém somos engolidos pelo cotidiano e as universidades ainda estão longe da comunidade para dar créditos ao que escrevemos. A Universidade tem a teoria, nós temos a práxis! Boa Leitura e Sejam Bem Vind@S!