* Por Jackeline Lourenço Aristides e Marina Maria Beltrame
O Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Caps i) é um
serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). É um
lugar de referência e tratamento para crianças e adolescentes (até 18 anos) que
apresentam sofrimento psicossocial, cuja severidade e/ou persistência
justifiquem sua permanência através de cuidados intensivos, porém comunitários.
Estão incluídos nessa categoria as crianças com autismo, psicoses, neuroses
graves e em dependência de crack, álcool e outras drogas.
Para ser modelo substitutivo ao hospital psiquiátrico, a
assistência deve ser integral e em equipe multiprofissional, contemplando o
processo saúde doença permeado pelos determinantes sociais. Ao buscar atendimento no
Caps Infantil, é agendada uma triagem para a criança/adolescente na qual os pais
ou responsáveis também participam. A triagem aos transtornos mentais ocorre às
sextas-feiras em grupos divididos por faixa etária e a triagem relacionada à
dependência de álcool e ou drogas nas quintas. A escuta é feita pela equipe
multiprofissional que se divide em dois grupos: uma parte escuta os pais e a
outra parte observa e escuta as crianças e ou adolescentes. Terminada a
triagem, a equipe se reúne para discussão dos casos e avaliar se a
criança/adolescente apresenta condição psicossocial que justifique atendimento
nesta instituição, o que pode implicar em atendimentos em psicologia, psiquiatria, assistência social, procedimentos e consultas de
enfermagem, visitas domiciliares, oficinas e grupos terapêuticos. Em caso
negativo, a devolutiva é realizada para os pais-responsáveis, ou órgão
encaminhador, que pode contemplar esclarecimento de dúvidas ou encaminhamento
para outros serviços da rede. Para alcançar a integralidade na assistência e o
acolhimento na comunidade desencadeamos reuniões em rede (CRAS, UBS, CREAS,
conselho tutelar e outros) e visitas periódicas em escolas. Os preceitos da
Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial também foram utilizados como
argumentos para o desenvolvimento de grupos terapêuticos com crianças e adolescentes
em dependência química, reconhecendo a redução de danos como pressuposto da
adesão ao tratamento. Avançamos na integralidade
da assistência, na discussão de casos em rede e em equipe multiprofissional, no
cuidado dos usuários com dependência química em regime ambulatorial, porém
ainda nos deparamos com obstáculos reducionistas quando almejamos os preceitos
da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial. Encontramos resistência na
desinstitucionalização e na desospitalização entre profissionais da saúde
mental, assistência social e educação, e forte apelo à medicalização e
internação psiquiátrica.
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